Destaque Tabagismo

Em dez anos, lei antifumo pega e muda hábitos

A lei pegou! Dez anos depois, garçons e demais funcionários de bares, restaurantes e casas noturnas respiram aliviados, literalmente. Os clientes não precisam mais se preocupar com a saúde de seus pulmões. Os proprietários comemoram a volta dos clientes. E os fumantes… Bem, os que ainda persistem no vício estão cada vez mais renegados. Pior! Estão ficando fora de moda.

“Não tem mais graça, se tornou ‘demodê’”, afirmou Ângelo Aguinaldo Picolo, 59 anos, e fumante desde os 16.

Ele participa desde o começo de junho de um grupo do programa antitabagismo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). A saúde foi a menor de suas preocupações ao decidir largar o cigarro. “O sentido de fumar acabou. Aquilo que te dava prazer agora não dá mais. Então chegou a hora de parar”, disse Picolo, explicação que ilustra bem como “funciona” a relação de um tabagista com o cigarro atualmente.

Ex-agente de apoio sócio-educativo da Fundação Casa, antiga Febem, Picolo relembra dos transtornos causados pela lei antifumo. “Antigamente, eu fumava dentro da unidade e os meninos internos também fumavam. Fazia parte da rotina. Depois da lei, tinha de sair do prédio e procurar um espaço aberto para fumar. O problema é que tinha de largar o trabalho para isso”, afirmou.

Os transtornos aos fumantes são bem visíveis em frente aos prédios do centro de São Paulo, onde os grupos formam rodinha para fumar. O assistente operacional Ulisses Buriti, 43 anos, por exemplo, desce do 22º andar de um prédio no vale do Anhangabaú ao menos quatro vezes ao dia para saciar o vício. “Nem fumo muito, mas trabalho com pessoas que você percebe a alteração de humor se passa muito tempo sem fumar.”

4,6 MIL MULTAS EM 10 ANOS

Desde 2009, o Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria realizou cerca de 2 milhões de inspeções e 4.600 mil autuações em todo o Estado para quem foi flagrado fumando em local público fechado. O valor da multa é de R$ 1.326,50, e dobra em caso de reincidência.

Na Capital, em 2009, 18,8% dos 11 milhões de paulistanos eram fumantes (por volta de 2 milhões de pessoas). Já em 2017, o percentual caiu para 14,2% – cerca de 1,7 milhão de pessoas de uma população estimada em 12,2 milhões.  Mas largar o vício já era uma tendência antes da lei, segundo José Jardim, pneumologista, coordenador do programa de antitabagismo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Segundo o Ministério da Saúde, nos anos 1989 e 1990, 32% da população brasileira era de fumantes. Em 2012, baixou para 15%.

Projeção feita em 2014 pelo órgão era de que este índice atingisse 10% da população em 2022. “Mas em 2019, caiu para 9,3%”, afirmou Jardim.

INÍCIO FOI DE POLÊMICA

Em suas primeiras versões, a lei antifumo opôs donos de bares, restaurantes e casas noturnas, a seus funcionários, como garçons, atendentes e outros. Inclusive com a participação direta dos sindicatos patronal, a Abrasel, e o dos trabalhadores da categoria, o Sinthoresp.

Por parte dos proprietários, o temor na queda da frequência e, obviamente, dos lucros. Pelos funcionários, a preocupação com a saúde em primeiro lugar. Dez anos depois, com a lei consolidada, todos comemoram.

“A cada lei, era uma novidade. Primeiro, tinha que dividir o espaço. Depois, o fumódromo isolado. Tudo sem discussão, sem segurança jurídica para os empresários, responsáveis por fiscalizar os clientes. Hoje, a situação está apaziguada e todos entendem a importância da lei”, afirma Percival Maricato, presidente da Abrasel. “Desde o primeiro momento, abraçamos a lei em nome da saúde dos trabalhadores”, relembra Rubens Silva, secretário-geral do Sinthoresp.

Mas muitos garçons ainda reclamam da postura de alguns fumantes. “Melhorou muito, mas mesmo na área externa não se preocupam para onde vai a fumaça. Fumante é mal-educado”, crava Wilson Ferreira, garçom do Bar Veloso.

Leave a Comment

Your email address will not be published.

You may also like