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Cigarros eletrônicos: o que dizem os últimos estudos e como o médico deve abordar a questão

A chance de fumar sem nenhum dos riscos envolvidos nas tragadas de antigamente. Esta foi, por anos, a promessa dos fabricantes de cigarros eletrônicos tanto para quem tentava substituir o vício em cigarros comuns por algo menos prejudicial à saúde, como para aqueles – especialmente os jovens – interessados na experiência de fumar pela primeira vez.

Com uma grande variedade de sabores, intensidades e substâncias à disposição, o vape – como é popularmente chamado pelos usuários – se tornou uma febre nos Estados Unidos e logo conquistou adeptos em outras partes do mundo. No entanto, uma série de novos estudos e recentes relatos de casos de morte após o uso destes dispositivos vêm contestando a veracidade das vantagens anunciadas pela indústria.

“Desde o início, esses produtos foram muito mais planejados como uma forma de conquistar mercado entre os jovens do que como uma redução de danos para quem estava fumando muito e não conseguia parar de fumar”, afirmou o Dr. João Paulo Lotufo, pneumologista, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e membro da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

Segundo o médico, tratava-se de uma forma de contornar o estigma criado em torno do cigarro tradicional, sob uma aparência de maior segurança e confiabilidade.

“Mas a indústria do tabaco não é confiável. Ela já omitiu os malefícios do tabaco durante décadas, e faz o mesmo neste caso”, argumentou o Dr. João Paulo.

“Estamos vendo a mesma coisa que acontecia com o cigarro, mas com um novo produto. Ele ainda tem substâncias cancerígenas, ele ainda faz mal. Mesmo para quem pensa em utilizar como uma forma de parar com o cigarro, é problemático: o indivíduo permanece dependente de uma droga que está fazendo mal a ele”, afirmou.

Com campanhas publicitárias voltadas para o público jovem, o resultado veio: o consumo de cigarros eletrônicos não para de crescer entre os norte-americanos em idade escolar. De acordo com o último National Youth Tobacco Survey (NYTS) divulgado pelos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o uso desses dispositivos aumentou 78% entre estudantes do ensino médio norte-americanos entre 2017 e 2018, o que foi considerado “alarmante” pelos CDC.

Segundo uma estimativa da Food and Drug Administration (FDA) norte-americana, em 2018, mais de 3,6 milhões de jovens em idade escolar fumavam cigarros eletrônicos nos Estados Unidos.

O aumento do uso e a divulgação de novos riscos à saúde associados aos cigarros eletrônicos fizeram as agências governamentais norte-americanas fecharem o cerco sobre os cigarros eletrônicos, lançando uma investigação criminal para apurar as causas da “epidemia” de doença pulmonar aguda instaurada no país, com mais de 500 casos em 38 estados. Segundo os CDC, até 1º de outubro haviam sido registrados 1.080 casos de lesão pulmonar aguda e pelo menos 18 mortes relacionadas com o uso destes dispositivos nos EUA. Esta crise afeta, sobretudo, a população jovem: aproximadamente 80% dos pacientes com complicações associadas a cigarros eletrônicos têm até 35 anos de idade, e cerca de 37% têm até 20 anos.

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