Infelizmente, começo o texto desta semana de maneira semelhante aos das semanas anteriores. Temos visto uma piora acentuada da pandemia, alcançamos recordes aterrorizantes (atingimos a marca de 300 mil brasileiros e brasileiras vítimas fatais da covid-19 nesta semana) e, mesmo exaustos, temos que adotar medidas ainda mais restritivas, mas que são absolutamente necessárias diante do desafio fundamental que é salvar vidas. Em virtude de tudo isso, um fenômeno que já havíamos presenciado desde o ano passado volta a acontecer: estamos cada vez mais expostos e dependentes das tecnologias e da internet.
É difícil ser diferente, afinal, parte das crianças e adolescentes seguem tendo aulas online e, aqueles que podem, adotaram o home office como modelo de trabalho. Nesse ritmo, seguiremos como a nação que mais utiliza a internet, como já apontou o estudo realizado pelo BrazilLAB: brasileiros passam, em média, nove horas por dia na rede.
Pessoalmente, me incluo no grupo dos que intensificaram o uso e a dependência em relação às tecnologias. Meu celular me acompanha a todo o momento do meu dia e eu o utilizo para a grande maioria das minhas atividades —de compras no supermercado até videoconferências para o trabalho e também para consultas médicas e ligações para amenizar a saudade que tenho da minha família.
Essa dependência contemporânea das tecnologias não é coincidência, mas sim algo intencionalmente pensado pelas empresas que as desenvolveram. Cada aspecto de uma solução tecnológica, em especial as redes sociais, foi desenhado para cativar usuários, distrair e fazer com que as pessoas estabeleçam uma relação nem sempre saudável com essas soluções.
Há diversos estudos que apontam como os “likes” que recebemos em nossas redes sociais geram sensações muito reais em nossos corpos, como o aumento da dopamina, um conhecido neurotransmissor relacionado às sensações de bem-estar e recompensa.
E, considerados todos os aspectos positivos e divertidos das redes sociais, é também através delas que fenômenos altamente prejudiciais se proliferam: como as fake news —tema que já discuti bastante aqui— e as redes de ódio, como bem exemplifica o filme polonês de mesmo nome que está disponível na Netflix.
Por todos esses motivos, é preciso cada vez mais reconhecer que a saúde mental de nossa geração depende fundamentalmente de nossa relação com o uso das tecnologias, da internet e das redes sociais. E quando analisamos o contexto brasileiro, essa preocupação se torna ainda mais fundamental.
Segundo dados da OMS, o país do samba e do carnaval tem a maior taxa de pessoas com depressão da América Latina, são 5,8% da população, o que equivale a 12 milhões de pessoas. Isso sem mencionar o transtorno de ansiedade: 9,3% da população sofre com esse mal, o que nos coloca como o país mais ansioso do mundo.
E o que já era grave tornou-se ainda pior. Segundo uma pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que teve a participação de 1.460 pessoas em 23 estados e todas as regiões do país, os casos de depressão praticamente dobraram e as ocorrências de ansiedade e estresse tiveram um aumento estarrecedor de 80% durante a pandemia.
Os dados me levam a crer que vivemos, também, uma pandemia de males relacionados à saúde mental. Cuidar da saúde mental e dos males que a afligem é um direito humano fundamental. Empresas, governos e a sociedade em geral devem adotar o tema como uma prioridade.
Cuidar da saúde mental e dos males que a afligem é um direito humano fundamental. Empresas, governos e a sociedade em geral devem adotar o tema como uma prioridade. Além disso, essas doenças comprometem as chances de desenvolvimento pleno das pessoas e também de toda uma economia.
Os transtornos relacionados à saúde mental já são uma das principais causas de faltas no trabalho, baixa produtividade e aumento nos custos com saúde, segundo estudo da consultoria Mckinsey.
Perdem as pessoas que sofrem, mas perdemos também todos nós. Tecnologia também pode ser cura Como já ressaltei aqui algumas vezes, a tecnologia não é inerentemente ruim ou prejudicial. Seus usos é que vão ditar qua.
Tecnologia também pode ser cura
Como já ressaltei aqui algumas vezes, a tecnologia não é inerentemente ruim ou prejudicial. Seus usos é que vão ditar quais efeitos podemos esperar. Se é bem verdade que as experiências e impactos negativos existem, por sorte, também são muitos os casos nos quais a tecnologia pode ser uma aliada para a saúde mental.
Algumas startups do portfólio do BrazilLAB atuam precisamente com esse tema. A Psicologia Viva é uma delas, oferecendo soluções na área de telepsicoterapia, a startup consolidou uma rede de psicólogos e profissionais de saúde mental, permitindo o atendimento online de qualquer lugar.
Recentemente, ela deu um importante passo: a participação no programa “Psicólogos na Educação”, do governo de São Paulo, que levará atendimento psicológico a 5.100 escolas públicas do estado.
Iniciativas semelhantes são a Fala Freud, solução que conecta pacientes e profissionais de saúde mental via WhatsApp a um preço acessível, e a Vitalk, que desenvolveu um chatbot, a Viki, que auxilia no acompanhamento do tratamento para saúde mental, no autoconhecimento e no equilíbrio emocional.
Mesmo com boas soluções à disposição, é seguro dizer que o universo da saúde mental ainda precisa ser explorado e muitas alternativas ainda precisam surgir para ampliar o acesso, a qualidade e diminuir o custo do atendimento.
Uma iniciativa muito interessante para contribuir com esse propósito é o MIT Challenge “Health Security and Pandemic”, lançado esse mês pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
O desafio busca estimular o desenvolvimento de soluções que possam apoiar a sociedade a enfrentar as ameaças à saúde mental que surgiram em decorrência da pandemia de covid-19. As soluções podem atender a uma gama variada de problemas, desde diagnósticos de sintomas e apoio a resposta imediata, até estratégias para combater a solidão, depressão e estresse entre as pessoas.
O edital está aberto até junho de 2021 —se você tem uma solução em saúde mental, não deixe de participar. Os prêmios são muito atrativos e, inclusive, há uma categoria específica para soluções que atendam mulheres e meninas.
Não ignorar o poder de pequenos hábitos
Todos, sem exceção, estamos vivendo um momento muito desafiador. Mas gostaria de terminar esse texto com um convite a você. Mesmo com todas as limitações, sejam elas financeiras, físicas, sociais ou de tempo, tente priorizar pequenos hábitos que te ajudem a se manter mentalmente saudável e vigilante com o seu bem-estar.
Tenho procurado falar sobre isso nas minhas redes sociais também. Comece com pouco, mas faça ainda hoje. O cuidado com o nosso corpo e mente são os principais legados que podemos nos dar.