Dionísio Banaszewski As bebidas alcoólicas e outras drogas sempre estiveram presentes nas comunidades humanas, desde as mais remotas épocas e nas mais diferentes culturas. Até mesmo algumas religiões usaram e usam álcool e outras substâncias na busca do contato com o divino. Assim, culturalmente, bebidas alcoólicas se tornaram tradição, com produtos típicos de cada região, como o whisky na Grã-Bretanha, a vodca no leste europeu, a tequila no México e mesmo a cachaça brasileira.
Da mesma forma, bebidas não destiladas, como o vinho e a cerveja, ganharam importância histórica em diferentes culturas. O álcool passou a ser sinônimo de recreação e hoje está presente em quase todas as festas e confraternizações. E o fato de ser socialmente aceito e incentivado desde a juventude faz com que muitas vezes não o vejamos como um problema social.
Por se tratar de substância psicoativa, pode ser altamente destruidor quando o uso é abusivo ou quando a pessoa tem alguma predisposição para desenvolver dependência química – estima-se que cerca de 30% das pessoas tenham essa predisposição e que aproximadamente 12 a 15% desenvolvam, de fato, a dependência. Pode-se dizer que o álcool é a droga mais nociva, pois ela é sempre o ponto de partida para as outras. Muitas vezes a sociedade, as autoridades políticas e mesmo profissionais de saúde alertam para os riscos das drogas ilícitas, mas se esquecem que os danos do álcool são extremamente nocivos.
É claro que não se deve fechar os olhos para as drogas psicoativas em geral, mas há que se compreender que a bebida alcoólica é a primeira delas. Esse problema bate às portas das empresas, mas muitas vezes é difícil reconhecê-lo. Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) apontam que o alcoolismo é o causador do maior número de pedidos de auxílio-doença por transtornos mentais e comportamentais e por uso de substância psicoativa. Só em 2013, quase 15 mil pessoas precisaram se afastar do trabalho por causa da bebida – um aumento de 19% nos últimos quatro anos. Alerta para os sintomas É por isso que as empresas devem estar atentas. É preciso saber reconhecer quando um colaborador precisa de ajuda e orientação. Sinais como absenteísmo, especialmente perto de fim de semana e feriados, comportamentos de desatenção e alteração de humor, mentiras, informações incoerentes e tentativas de manipulação devem colocar as equipes em alerta.
O principal caminho para o enfrentamento é a informação, tanto na orientação das equipes quanto no reconhecimento do problema e encaminhamento para tratamento e reinserção do indivíduo em seus papeis sociais. Tenho percebido, com minhas experiências na área, que os resultados são mais positivos quando as empresas trabalham na orientação de seus colaboradores e familiares, oportunizando, de forma respeitosa e sem preconceitos, o relacionamento transparente, a informação clara e a busca do bem-estar, como é a linha de trabalho no Programa Cuide-se Mais, do SESI-PR. Dionísio Banaszewski é psicólogo, consultor do SESI-PR no Programa Cuide-se Mais e atua também na Clínica Quinta do Sol, em Curitiba. Trabalha há mais de 25 anos na orientação e tratamento da dependência química.