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Alcoolismo e dependência de outras drogas: Compreendendo o comportamento de quem sofre desses males.

Carmen de Bakker Silveira

Embora não possamos perder de vista que as pessoas que padecem de alcoolismo (chamados comumente de “alcoólatras”) ou de dependência de outras drogas sejam sempre únicas e singulares, podemos observar um certo modus operandi  e algumas deficiências específicas no funcionamento emocional que parecem ser comuns entre a maioria das pessoas que vivem este problema. Claro que ao colocar as coisas desta forma estamos simplificando uma questão complexa, mas o objetivo aqui é apenas examinar algumas características que são marcantes neste tipo de dependência química.

Estas características frequentemente provocam sentimentos de desesperança e impotência nos familiares que muitas vezes relutam em buscar ajuda em clinicas de reabilitação, contribuindo assim para o agravamento do problema.

Muito frequentemente, observamos que estas pessoas possuem recursos internos pouco desenvolvidos e imaturos e acabam inundados por estados emocionais que não conseguem administrar.

O contato com a dor, o abrir mão de certas satisfações, coisas que fazem parte da vida de todos nós e que levam ao crescimento e amadurecimento, são impedidos mediante o consumo de álcool e drogas, usadas muitas vezes como anestésicos na tentativa de compensar déficits no funcionamento da personalidade e impedindo o processo de tomada de consciência de si mesmo e da possibilidade de pensar.

Como afirma  Dartiu Xavier, renomado especialista na área,  o dependente químico é um indivíduo que vive uma realidade objetiva ou subjetiva insuportável, realidade esta que não consegue modificar e da qual não consegue se esquivar, restando-lhe como única alternativa a distorção em sua forma de perceber a realidade. Ou seja: “acredita em ilusões”. “Mente para si mesmo e acredita na mentira”, alienando-se cada vez mais e comprometendo sua capacidade de discernimento.

Isto ocorre de duas maneiras: pelas experiências repetidas de intoxicação (usa a droga ou o álcool e há um alívio rápido dos sentimentos negativos e uma visão bem mais favorável de si mesmo e do mundo – como um “anestésico mental”) e também pelas distorções em sua condição de enxergar o que está acontecendo. O resultado é que ele não consegue dar-se conta de que está com problemas.

Este mecanismo defensivo chama-se negação e é uma das características mais marcantes do quadro e acarreta grandes dificuldades (tanto para o diagnóstico quanto para o encaminhamento de qualquer proposta terapêutica).

Muitos dependentes químicos negam que consomem drogas, minimizam a quantidade e a freqüência do uso, ou quando reconhecem o consumo, negam que isto lhes acarrete qualquer problema. Assim, não conseguem se responsabilizar pela situação.

Com muita frequência ouvimos os dependentes químicos dizerem que estão determinados a modificar seu comportamento. Por exemplo: afirmam que nunca mais vão usar e que seus problemas fazem parte do passado. Muitas vezes esta intenção é verdadeira, mas a pessoa “promete”  uma coisa que não tem condições de cumprir. Uma observação mais atenta permite verificar a inconsistência disto, na medida em que, do ponto de vista interno, nada se modificou. São os conhecidos “pensamentos mágicos”, ilusões.  O mecanismo de negação encontra-se plenamente ativo, uma vez que as dificuldades inerentes ao processo não são sequer cogitadas. Impera a onipotência, e a super-valorização dos próprios recursos em detrimento de uma interpretação mais realista do contexto.

Naturalmente, esta forma de funcionar não se sustenta  por muito tempo. Os problemas continuam se acumulando e  as tentativas de desvencilhar-se deles o mais rápido possível vão sendo incrementadas. Neste processo, muitas vezes tornam-se agressivos, culpando a tudo e a todos por suas dificuldades. Resultam disto também : a impulsividade, as mentiras e as manipulações bem como mais e mais uso de álcool e drogas, num círculo vicioso que pode parecer não ter saída.

É tocante a solidão e o desespero das famílias que convivem com este tipo de problema. Quando alguém que vive esta condição dramática em seu lar chega ao ponto de entrar na Internet – recurso cada vez mais utilizado nos dias de hoje – e vai buscar, muitas vezes às escondidas   – “clinicas para alcoólatras”, “clinicas de reabilitação para dependentes de drogas”, etc, um passo importante já está sendo dado.

Pelos riscos que representam para si mesmos e para os demais, estas pessoas necessitam de ajuda urgente. O tratamento de dependência química vai oferecer um suporte para o desenvolvimento das ferramentas que estas pessoas necessitam para poderem assumir as rédeas de sua vida e libertarem-se do curso altamente destrutivo desta situação.

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