Embora não possamos perder de vista que as pessoas que padecem de alcoolismo (chamados comumente de “alcoólatras”) ou de dependência de outras drogas sejam sempre únicas e singulares, podemos observar um certo modus operandi e algumas deficiências específicas no funcionamento emocional que parecem ser comuns entre a maioria das pessoas que vivem este problema. Claro que ao colocar as coisas desta forma estamos simplificando uma questão complexa, mas o objetivo aqui é apenas examinar algumas características que são marcantes neste tipo de dependência química.
Estas características frequentemente provocam sentimentos de desesperança e impotência nos familiares que muitas vezes relutam em buscar ajuda em clinicas de reabilitação, contribuindo assim para o agravamento do problema.
Muito frequentemente, observamos que estas pessoas possuem recursos internos pouco desenvolvidos e imaturos e acabam inundados por estados emocionais que não conseguem administrar.
O contato com a dor, o abrir mão de certas satisfações, coisas que fazem parte da vida de todos nós e que levam ao crescimento e amadurecimento, são impedidos mediante o consumo de álcool e drogas, usadas muitas vezes como anestésicos na tentativa de compensar déficits no funcionamento da personalidade e impedindo o processo de tomada de consciência de si mesmo e da possibilidade de pensar.
Como afirma Dartiu Xavier, renomado especialista na área, o dependente químico é um indivíduo que vive uma realidade objetiva ou subjetiva insuportável, realidade esta que não consegue modificar e da qual não consegue se esquivar, restando-lhe como única alternativa a distorção em sua forma de perceber a realidade. Ou seja: “acredita em ilusões”. “Mente para si mesmo e acredita na mentira”, alienando-se cada vez mais e comprometendo sua capacidade de discernimento.
Isto ocorre de duas maneiras: pelas experiências repetidas de intoxicação (usa a droga ou o álcool e há um alívio rápido dos sentimentos negativos e uma visão bem mais favorável de si mesmo e do mundo – como um “anestésico mental”) e também pelas distorções em sua condição de enxergar o que está acontecendo. O resultado é que ele não consegue dar-se conta de que está com problemas.
Este mecanismo defensivo chama-se negação e é uma das características mais marcantes do quadro e acarreta grandes dificuldades (tanto para o diagnóstico quanto para o encaminhamento de qualquer proposta terapêutica).
Muitos dependentes químicos negam que consomem drogas, minimizam a quantidade e a freqüência do uso, ou quando reconhecem o consumo, negam que isto lhes acarrete qualquer problema. Assim, não conseguem se responsabilizar pela situação.
Com muita frequência ouvimos os dependentes químicos dizerem que estão determinados a modificar seu comportamento. Por exemplo: afirmam que nunca mais vão usar e que seus problemas fazem parte do passado. Muitas vezes esta intenção é verdadeira, mas a pessoa “promete” uma coisa que não tem condições de cumprir. Uma observação mais atenta permite verificar a inconsistência disto, na medida em que, do ponto de vista interno, nada se modificou. São os conhecidos “pensamentos mágicos”, ilusões. O mecanismo de negação encontra-se plenamente ativo, uma vez que as dificuldades inerentes ao processo não são sequer cogitadas. Impera a onipotência, e a super-valorização dos próprios recursos em detrimento de uma interpretação mais realista do contexto.
Naturalmente, esta forma de funcionar não se sustenta por muito tempo. Os problemas continuam se acumulando e as tentativas de desvencilhar-se deles o mais rápido possível vão sendo incrementadas. Neste processo, muitas vezes tornam-se agressivos, culpando a tudo e a todos por suas dificuldades. Resultam disto também : a impulsividade, as mentiras e as manipulações bem como mais e mais uso de álcool e drogas, num círculo vicioso que pode parecer não ter saída.
É tocante a solidão e o desespero das famílias que convivem com este tipo de problema. Quando alguém que vive esta condição dramática em seu lar chega ao ponto de entrar na Internet – recurso cada vez mais utilizado nos dias de hoje – e vai buscar, muitas vezes às escondidas – “clinicas para alcoólatras”, “clinicas de reabilitação para dependentes de drogas”, etc, um passo importante já está sendo dado.
Pelos riscos que representam para si mesmos e para os demais, estas pessoas necessitam de ajuda urgente. O tratamento de dependência química vai oferecer um suporte para o desenvolvimento das ferramentas que estas pessoas necessitam para poderem assumir as rédeas de sua vida e libertarem-se do curso altamente destrutivo desta situação.
Bacana.
Interessante.
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